terça-feira, 12 de maio de 2015

A mulher em “A confissão de Leontina”, de Lygia Fagundes Telles



"Elas não têm gosto ou vontade
nem defeito ou qualidade
têm medo apenas
não tem sonho, só tem presságios
lindas sirenas, morenas."
(Chico Buarque de Holanda
“Mulheres de Atenas”)

Este ensaio propõe uma leitura reflexiva do conto “A confissão de Leontina”, de Lygia Fagundes Telles. Pretende-se analisar as relações humanas e o papel direcionado à mulher nesse conto.
Em “A confissão de Leontina”, a narradora-personagem Leontina é uma mulher que está presa por ter cometido um crime em sua legítima defesa. Ela conta sua história desde a infância até a vida adulta através de uma confissão direcionada a alguém que finamente resolveu escutá-la. Leontina é uma figura meiga, sensível e inocente, inserida em um contexto social de risco e de total exclusão: o pai ela não conheceu, a mãe era uma senhora humilde, sem estudos, que só pensava no trabalho para o sustento da família, a irmã era um criança doente e totalmente depende dos cuidados de Leontina, e o primo, que a desprezava, só pensava nos estudos, no desejo de tornar-se médico e livrar-se delas de quem ele dependia (TELLES, 1991.)

Leontina acabou absorvendo com intensidade todos os afazeres da vida doméstica, e após a morte da mãe teve de sustentar a família, mesmo sendo apenas uma adolescente. Ela fazia tudo isso com resignação, pois aquele era o modelo de mulher que ela conhecia, modelo pré- estabelecido pela sociedade, onde a hierarquia das relações de gênero determina as atividades. Ou seja, o espaço íntimo da mulher está relacionado com a vida doméstica, enquanto o do homem está ligado ao intelecto e às atividades de maior prestígio.  Isso porque a mulher, ao longo de sua existência, sempre foi submetida a papéis pouco privilegiados na sociedade.  Leontina, através de sua confissão, vai resgatando sua identidade e mesmo percebendo o seu sofrimento, não se revolta. A ausência da figura paterna mexe com o imaginário de Leontina, pois enquanto ela se materializa na figura da mãe, o pai é um ser idealizado, imaginado por ela. Temos aí mais uma exaltação da figura masculina, mesmo que imaginaria. As relações humanas baseadas no auto- interesse e na submissão são o retrato de um mundo desigual, um mundo cruel, onde a valorização do eu como dominador ainda é recebida pela sociedade como algo positivo, normal. A luta ainda persiste por igualdade de oportunidade e valorização da mulher, mas o caminho ainda é extenso.

                                                                                                                                Etiara Silva Souza[1]


Referência

TELLES, Lygia Fagundes. A estrutura da bolha de sabão: contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.




[1] Graduanda do curso de Letras da FACISABH. Ensaio produzido nas aulas de “Produção de textos III”.

3 comentários:

  1. A reflexão desse texto é encantador,fala de algo que infelizmente ainda existe, mesmo com tantos avanços , podemos ver isso ainda , princialmente, em alguns lares em que a mulher foi uma figura totalmente submissa e não buscou se realizar naquilo que sonhava, sendo vítima desse preconceito marxista, com relação ao ensaio deveria ser mais argumentativo, mais analisado, expor mais do assunto que o texto retrata, tal assunto que um dia foi mais intenso, mas, ainda faz parte da sociedade atual.

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  2. A reflexão desse texto é encantador,fala de algo que infelizmente ainda existe, mesmo com tantos avanços , podemos ver isso ainda , princialmente, em alguns lares em que a mulher foi uma figura totalmente submissa e não buscou se realizar naquilo que sonhava, sendo vítima desse preconceito marxista, com relação ao ensaio deveria ser mais argumentativo, mais analisado, expor mais do assunto que o texto retrata, tal assunto que um dia foi mais intenso, mas, ainda faz parte da sociedade atual.

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  3. Adorei a reflexão a partir de um como tão lindo como esse. Adoro a Telles, adoro todos os seus trabalhos, em especial esse livro de contos. Ela tem uma maneira ímpar de transformar o cotidiano em algo tão profundo. Achei que o ensaio anlisou um ponto crucial no trabalho de Telles: a submissão da figura feminina e a relação de poder entre as pessoas. Porém faltou desenvolver melhor esse assunto tão pertinente. Contudo, o começo do ensaio está sensacional e vale muito desenvolve-lo.

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